quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O texto no teatro pós-moderno




A discussão do valor do texto dentro da cena dramática, só tem sentido no teatro de vanguarda.


Nesse contexto, vale a pergunta: o que há ainda para ser representado no teatro de vanguarda? Nada! Nada mais há. A representação teatral esgotou-se pelo desgaste do despotismo do texto encarnado no palco.


O logos exige daquele que o rouba para si, o ator, uma obediência e submissão, que transcende o sentido poético e virtuoso do ator, obrigando-o ao simulacro, tomada da região das cópias. Aqui ao aproximarmos da atuação, seja pelo viés russo ou pelo alemão, ainda assim, o que vemos são os simulacros, que usam as singularidades de vida própria do ator.


Todavia, o texto não foi jogado no lixo, só que admite-se ser um componente que entra na cena, para ser "demonizado", diferentemente do que ocorre com o teatro tradicional, onde só há cena se houver texto. O teatro pós-modeno é capaz de exercer a cena independente de qualquer texto. Este é o fascínio. Um teatro de expressão permanente, onde o exercício da liberdade e das convicções fortes e potentes leêm o cotidiano mesquinho, vaidoso e submisso, para transformá-lo.


Os manuscritos sagrados sempre exerceram um poder absoluto sobre seus leitores, a ponto de execrar qualquer tentativa de exegese diferente da literal e ao relativizar os fatos ocorridos, como o que ocorreu com os liberais, que leram a Bíblia com um olhar mais cético e menos crédulo, foram alvo de muitas críticas.


Esse exemplo serve como ponto de apoio para o novo sentido a ser dado no teatro pós-moderno, onde o logos nada exige e ao contrário, serve de degustação, como um elemento da celebração dionisíaca, não abduzindo a mais ninguém.


Agora, são os atores que interferem no texto, a ponto de desconstruí-lo, onde são as personagens, as personas, que deverão ser operadas pelas expressões existenciais de cada ator, não mais emprestando-as ao exercício do ofício e sim, vivendo suas vidas como dispositivos sobre o texto. Poderá ser o caso de termos várias Desdemônas sodomizando Iago em Otelo de Shakespeare, ou as filhas de rei Lear, como filhos cometendo um parricídio totêmico, não cabe dizer o que se pode fazer a partir de um texto.


Cada companhia de teatro, seja de rua, de lona, mambembe, ou com seus próprios espaços singulares, são capazes de trabalhar seus dispositivos e sentidos, mexer o logos como lhe convier, através de uma leitura latente, sintomal e obscura aos olhos acostumdos pela literalidade. Enterrando de vez com o suplício das interpretações literais, que arrastam em correntes a cultura ocidental por dois milênios.

2 comentários:

Sérgio Araújo disse...

Robertson,

Eu digo que isso soa um retorno à originalidade e intempestividade das origens do teatro como katársis.
Interessa-me a discussão, dê retorno á provocação.
Abraço.

Beto Rébula disse...

todo texto pode provocar, por sua intensidade, a catarse, o momento de expurgação do mal. O teatro tem que viver o seu pathos, não gosto do teatro racionalista e pragmático. teatro tem que te paixão e consequentemente, catarse.
A questão toda é a relação do texto com o ator e sua interpretação. A meu ver, o texto tem que ter suspiros, que enseje a liberdade de expressão, sem qualquer uso de rubricas, entre outros aspectos.
Obrigado, Sérgio por vir, abs