quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Ensolarada varanda

Ensolarada varanda,
onde nada acontece.

O menino no alpendre,
assiste de frente
a negação do vento,
o chão de cimento,
as formigas mudas em marcha,
o anão de jardim sem graça.

Da bacia de lata emborcada,
o silêncio da manhã, no repente
da calma complacente,
deflorado é, pela água entornada.

Corre e desmancha o cinza
da calçada lisa em chumbo;
inunda todos os mundos,
enche os pés numa piscina,
arrasta para longe as saúvas
e faz a graça da lisura.

Ensolarada varanda,
onde tudo acontece.

­– Pedrinho! Tá na hora, vem tomar banho!

domingo, 27 de setembro de 2009

Moby Dick: o Leviatã de Aderbal



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Em muitos momentos da vida, os homens confrontam seus Leviatãs. Alguns destemidos avançam, outros, acovardados recuam. Há Leviatãs tão terrificantes, que subjugam seus tributários somente por suas imagens de monstros, o que ocasiona tremores e fugas fragorosas. Para a outra categoria, cara feia não mete medo.

Os seres humanos guardam dentro de si os mais poderosos Leviatãs, que são instrumentalizados através das máscaras sociais do pai, do marido, do patrão, do juiz, do padre, do professor, do amante, dos filhos, etc. São convertidos em ditadores, em déspotas e torturadores, apreciadores das cruéis perversões sádicas. Há também os Leviatãs simbólicos como uma montanha que desafia os escaladores, ou empreitadas físicas de esforço sobre-humano, que fazem parte da natureza de superação humana.
Os piores e mais assombrosos Leviatãs são os imaginários, que só existem dentro da psiquê humana, que arrastam suas presas para uma espécie de incapacidade moral de resistir ao pavor que exercem sobre elas. De modo geral, essas vítimas de si mesmas se escoram nas religiões.

No romance Moby Dick, de Herman Melville, o capitão Ahab é o principal personagem, que não recua diante do seu Leviatã, um perigoso cachalote branco, que deseja obsessivamente matar. Um juntamento de homens de diversas culturas ingressam nessa aventura de Ahab, no barco baleeiro Pequod e iniciam uma perambulação pelos oceanos atrás do temido Leviatã.
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Aderbal Freire-Filho contrói seu Moby Dick num recorte de 3x4, como ele mesmo diz, mas não preconiza a aventura em si e sim os modelos de interação cultural da tripulação e o significado de uma obsessão de morte entre o elemento da cultura, Ahab e o elemento da natureza, Moby Dick. Esta metáfora é recorrente em todas as análises literárias do livro de Melville e é isso que se vê nesta encenação bem dirigida e interpretada.
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O livro é esse elemento cênico. Um vínculo da interação da cultura representado pelos barcos de remos, que perseguem a baleia, o ser livre, natural e assassino. Culmina com a destruição de Pequod, num momento cênico forte interpretado por Chico Diaz, como o Leviatã. Uma inteligente solução linguística usada por Aderbal.
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O cenário é o deck do Pequod, é bem feito e é evocativo. Os atores poderiam utilizar mais esses elementos cênicos, como o mastro e os cordames, o que daria uma movimentação interessante, sem embaraçar a assistência, já que o espaço do Teatro Poeira tem uma arena de pequenas dimensões. Os arpões são um destaque à parte, com o ponto alto sendo a celebração do sangue dos arpoeiros, para combater o grande, furioso e móvel (mob) falo (dick). Os esguichos das baleias são surpreendentes, mas faltou um fog, uma luz noturna, uma inspiração a mais. Esperava mais da luz, achei-a burocrática, um espetáculo sem cor, à exceção do esguicho da morte de um cetáceo, pouco aproveitado pela luz. Os figurinos são muito bons e o desempenho dos atores é profissional e maduro. Todos brilham sob a mesma batuta.
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Aderbal Freire-Filho enfrentou seu Leviatã, o Moby Dick e o venceu, ainda que Ahab não o tenha conseguido. É um espetáculo a ser visto, por tudo que foi dito, mas sobretudo pela solução teatral dada a um romance longo e diversificado.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Reserva no Adrogué

dez anos vagueando no labirinto
de espelhos quebrados,
sem ideal de desconformidade.

um labirinto de vastidões
onde os vazios são estreitos e
cheios de águas brancas.

o minotauro alado sobrevoa TLÖN
não deixa recado, o mundo é dele.

o olhar escapado pelo absinto
não ameniza o abandono.
Viverei no Hotel Adrogué.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

exaltação

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abro os braços e te agradeço
pela vida que me destes;
aqui, ainda em pé permaneço,
não pela vontade que me resta,
e sim, pela tua seiva que rejuvenesce.

Pouca sombra dou,
não por falta de vocação
e sim, por excesso de perdão.
Tantas podas sofri, mas ainda sou
calada, sem grito e sem reação.

Olham pra mim e dizem: feiosa!
nem ligo, mais vale ser cuidadosa
com eles, os passarinhos,
que me escolhem para ninhos
e assim dou meu carinho.

hoje, te dou louvor
pelo sol, pelas chuvas e pelo calor.
hoje, te dou minhas flores de amanhã
e de todos os dias depois de amanhã,
até a última síntese de elã.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A nova dramaturgia russa: irmãos Presnyakov

Assisti ontem no CCBB do Rio, a leitura da peça Terrorismo, dos irmãos Presnyakov e me surpreendi com a qualidade da dramaturgia apresentada. Fui receoso e voltei encantado com o que ouvi. Trata-se de um texto, como o próprio título revela, de tempos invadidos pela violência, mas o que vale destacar foi o tratamento da narrativa dado por eles para um tema que assusta o mundo inteiro.
Oleg e Vladimir Presnyakov são indistintos, conforme disse Roberto Alvim, o mediador do debate que ocorreu logo após a apresentação. Eles não respondem a perguntas separadamente, são uma única entidade social dividido por dois (só Beckett explicaria) e atualmente suas peças são vistas por toda a Europa e agora chega até nós, com a tradução de Klara Gourianov.
Os Presnyakov introduzem à estrutura dramática, o conceito de camadas* de conflitos, que vão se sobrepondo umas às outras e que interagem nos últimos planos cênicos. Esse tratamento rompe com os blocos clássicos de construção de enrêdo, porque somente no último quarto da leitura torna-se possível amarrar o conjunto da obra.
Terrorismo é apresentado em seis cenas, denominadas Terrorismo 1,2...5,etc. Cada cena tem seus próprios personagens e sua própria complicação dramática. O clímax e o desfecho se dão no final como se fosse mesmo uma bomba que explode num ato terrorista, interligando todas as tramas. Interessante, não?
Essa técnica apresentada oferece leveza à carga dramática, além do que, o texto também tem uns pequenos suspiros de humor negro, como a guia do cão, que serve para enforcar; as balinhas de veneno para liquidar com certas etnias, etc.
A leitura foi dirigida por Antonio Gilberto e o elenco se portou à vontade e desenvoltura, com um destaque especial para Ivone Hoffmann com sua habilidade na modulação vocal.

*a noção de camadas (layers) vem do emprego do autocad, que é um software para desenho arquitetônico usado no mundo inteiro, fazendo desaparecer as pranchetas e os desenhistas com canetas de nanquin e réguas tês

terça-feira, 15 de setembro de 2009

domingo, 13 de setembro de 2009

Programa de peça

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Eis aí o programa da peça In On It. Gostaram? Pois é, não ficou muito bom, mas pelo menos poderei me lembrar dos atores, do diretor e de todos os trabalhadores da cena dramática. Sabe por que tirei essa foto? É porque hoje em dia, eles, os produtores não oferecem ao público os programas de teatro. Acho que todos vocês se lembram, né? A gente pagava por eles, é bom que se diga isso, porque nunca foram dados, pagávamos por eles, entretanto à visa de lembrança do seu cultdrama, havia no programa todas as histórias que a gente gostava de ler: as bios dos atores, do diretor, do cenógrafo, aliás, nessa peça esse crédito não haveria, porque é completamente minimalista: duas cadeiras e um paletó. Continuando, do iluminador, ah, já ia esquecendo, o autor da peça, entre outras menções. Também havia alguma sinopse do texto e todos os agradecimentos, os patrocínios bem-vindos, apoios e tudo mais.
Hoje, você compra o ingresso, sem lugar marcado, porque afinal, esse negóciio de lugar marcado é muito chato, não condiz com os tempos pós-modernos, nada disso. Quem chegar na frente entra e escolhe onde quer sentar, isso se for rápido, porque o de trás pode ser mais esperto e passar à frente e sentar exatamente naquele lugar ali, na boca do proscênio.
Agora, vocês vejam, os cinemas, que sempre foram atrasados com essas gentilezas, hoje nos oferecem lugar marcado, poltronas articuladas, um toco de plástico pra você botar os pés e ainda é mais barato que o teatro.
Me respondam, eu que sempre pago ingresso, não vou de carona de ninguém, por quê não tem mais o raio do programa?
Quanto a peça, é aquele texto de playwriting americano (o Daniel MacIvor é canadense) todo certinho e arrumadinho, bem digestivozinho, que até criança ri, pois bem, tá fazendo sucesso e eu já estou quase esquecendo do que se trata. As atuações dos atores e direção são eficazes e seguem o protocolo de estilo de dramaturgia leve que se faz hoje em dia em Nova York.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Cacilda: Estrela Brazyleira a vagar

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José Celso Martinez Corrêa e seu grupo do Teatro Oficina Uzyna Uzona estreou a 2ªparte da tetralogia da vida de Cacilda Becker, no último dia 5 de Setembro, no Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico do Rio de Janeiro.
Enquanto durou o meu fôlego, por quase sete horas, pude experimentar um teatro autogestivo regido com docilidade pelo feiticeiro Zé Celso. Foi uma longa evocação celebrante a Dioniso, com a partição do cacau, muitos corpos nus, ampla movimentação por todo o espaço, sem nunca esquecer a razão de estarem ali: revelar a história da jovem Cacilda , iniciante no teatro, detentora de um singular talento e sua entrega às paixões.
Os elementos cênicos não são fartos, mas o figurino evoca bem os anos 40. As músicas são excelentes, muitas delas desconhecidas para mim, bem conduzidas por músicos-atores bastante versáteis, como o Zé Carioca. O uso de microfones não foi bom, os equipamentos apresentaram muitas falhas no 1º ato, o que comprometeu muito o entendimento das falas. Seria melhor abandonar essas tecnologias e usar somente a voz natural com cuidado, para resistir às longas horas de atuação.
O tributo a Cacilda Becker foi realizado, através de um tour de force de todo elenco, sobretudo da jovem atriz Anna Guilhermina. Quem ainda não conhece um trabalho de criação coletiva, poderá vivenciar essa prática anarco-libertária, onde as significações do texto e dos personagens são exaltadas pela potência de ser de seus atores. Cessa a preocupação de desenvolver um personagem construído pelo modelo de Stanislavski, ou através do distanciamento de Brecht. O cuidado que se tem que ter é com as improvisações excessivas, quando se caminha pelo pós-drama.
Cacilda: Estrela Brazyleira a vagar, é um trabalho cênico importante para a dramaturgia brasileira, especialmente pela exaltação e resgate histórico dessa grande figura do teatro que foi Cacilda Becker. Parabéns para José Celso e todo o grupo do Oficina Uzyna Uzona.
A "Estrêla Brazyleira a vagar- Cacilda!!" voltou a estrear em São Paulo no dia 03 de outubro e fica em cartaz até 15 de Novembro. Uma boa oportunidade para celebrar um teatro de raízes brasileiras.

domingo, 6 de setembro de 2009

tuff e lash

a colher mergulha
vai ao fundo do copo: tuff
volta à superfície:lash;
de novo: tuff e lash,
tuff e lash;
fundo e superfície
tuff
e lash,
o verde do fundo
à superfície do verde
se misturam, se combinam
tuff e lash,
inconsciente e consciente
se misturam se combinam
tuff e lash,
id e ego.
revira e desvira
tuff e lash,
vitamina de abacate
verdejante destaque
tuff e lash;
figura e fundo
Apolo e Dioniso
tuff e lash
pênis e vagina
tuff e lash,
terra e céu,
tuff e lash,
vitamina de abacate
verdejante destaque.



sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Blindagem aeronaval da Amazonia



















Eis aí um bom resultado, daquilo que falamos tempos atrás. O calcanhar de Aquiles do Brasil é o próprio rio Amazonas. Se uma armada alienígena conquistar Belém, ela será dona do Brasil. Não acreditam? Pois vejam a notinha que saiu hoje na coluna do Anselmo, do O Globo, desta sexta-feira, dia 4/09/09, antevéspera da comemoração do dia da Independência.

Os submarinos seriam a primeira linha de defesa do estuário, enquanto os vasos de superfície formariam a segunda linha, mas se essa presença da Armada não for dissuasiva na região da foz do Amazonas, de nada adiantarão as forças terrestres.

O Brasil precisa blindar a Amazonia com uma forte base aeronaval em Belém. Isso é prioridade zero. Haverá também uma base de submarinos, independente da esquadra de superfície, que deverá ser instalada em São Luiz, para os submarinos ganharem rapidamente as águas profundas.

Leiam a crônica "Belém: cidade estratégica" , que publiquei aqui no Correio Vespertino em 28/01/09, que aborda essa fragilidade estratégica nas defesas do Brasil.
P.S 1. o que tem isso a ver com a poesia, me perguntei? parei pra pensar e me perguntei de novo: quem defenderá Macunaíma do gigante Piaimã, que já roubou a muiraquitã e agora quer o resto? Alguém aí sabe?
PS 2. O Chaves, aquele homem esquisito - a reencarnação stalinista de Bolivar - que domina a Venezuela vai fazer uma bomba atômica. Dentro de 12 anos, ele conseguirá produzir a primeira bomba. E aí como ficará a América Latina pacífica, hein hermanos? Vamos pular amarelinha?
P.S 3. Vocês acham que a Venezuela deve ingressar no Mercosul?